Durval Carvalhal

Fazer de cada queda um passo de dança.

Textos


A LIBERDADE

Durval Carvalhal




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          A liberdade é o coração do mundo. Por ela, derramou-se e derrama-se sangue a granel, o que significa que sem ela, a vida perde o sentido. Quando alguém comete um delito, a perda transitória da liberdade é a condenação.
          A vida sem liberdade é uma caricatura de si mesma e acaba sendo mais relevante que a vida, daí os preceitos constitucionais “liberdade de ir e vir” e “liberdade de expressão”, tudo isso com responsabilidade.
          São direitos naturais do homem: falar e ouvir. Senão, prá que boca e ouvidos? Só para adornar a cabeça? Só os desprovidos de saúde mental advogariam a privação da liberdade a um povo. Só covardes, falsos, insuficientes mentais abrigariam qualquer tirano na sua aceitação.
       São palavras da presidente Dilma: “Prefiro o barulho da imprensa livre do que o silêncio das ditaduras”. Foi através da liberdade humana que o homem saiu das cavernas e já foi à lua e já clonou ser vivo.
          “O homem está condenado a ser livre”, mas não é sujeito de uma liberdade absoluta, sem limites e sem restrições. Daí, a máxima de Rousseau: “o homem nasce livre, mas em toda a parte está acorrentado”, porque, no dizer de Kierkegaard, ele é misterioso e hábil, ora dirigindo-se para o bem; ora, para o mal.
          A liberdade assemelha-se a uma árvore frondosa, onde cada galho precisa ser podado, limitado, em nome da própria harmonia da organização sócio-política; daí, nenhum país sobreviver sem seu arcabouço jurídico.
          Segundo Aristóteles, o homem nasce com a inteligência zerada. Com o perpassar do tempo, vão se distinguindo, na medida em que uns estudam mais que outros. Portanto, as pessoas não são iguais no bojo da sociedade. São iguais juridicamente. Por que, então, igualar desiguais, acima da decência humana? Na própria Cuba, disse-me um ex-deputado cubano e engenheiro, que quem trabalha (ou trabalhava) no campo, tinha certos privilégios. Constatei que quem tinha o 2º grau ganhava a metade do salário de quem tinha nível superior.
       Visitei uma simpática e educada família pobre, cujos integrantes só tinham o curso médio. Depois, visitei um rico apartamento, cujos quatro integrantes tinham nível superior e ainda exerciam cargo de chefia (três engenheiros e uma jornalista).
          Na casa modesta, tomei gostosa garapa de limão. Na casa rica, tomei whisky e comi queijo. Naquela época, o chefe da família me disse: “a solução para o Brasil é criar um partido que congregue trabalhadores, pequenos médios empresários e tire a palavra comunista”. Ele havia acabado de chegar da Rússia.
         Essa visão coincidia com o desenvolvimento do PT, hoje no poder, robustecendo a tese de que só um estado forte pode garantir decência, direitos e dignidade.
          Ainda hoje, lamento não ter comprado um livro da editora três pontos, porque não queria andar com livro na mão. Duas horas depois, ao retornar pra casa, incrivelmente, não o encontrei mais. Fui à editora, permitiram-me vasculhar todos os livros e nada. No prefácio, que li na livraria, havia algo muito intrigante:
    “Marx estudou o comunismo do ponto de vista do funcionamento do estado, mas não do ponto de vista do interesse das pessoas”.
           Nenhum partido que dirigir o Brasil poderá mais enfraquecer o Estado, que é quem pode criar condições para que todos usufruam o que a todos pertencem, senão seria a barbárie.
          Ninguém pode mais adormecer com os discursos bonitos e entusiasmados propagados pelos neoliberais, afinal de contas, as pessoas são a razão de ser do Estado, que deve garantir o bem-estar de todos.

Fevereiro de 2012
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 27/03/2012
Alterado em 31/03/2013


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