Durval Carvalhal

Fazer de cada queda um passo de dança.

Textos

O MINISTRO JOAQUIM E O RACISMO


Admiro muito o ministro Ayres Brito; ele me inspira muita confiança; mas, analisem bem suas palavras: "Somos contra o racismo por dever, porque o racismo é proibido pela Constituição e é criminalizado". Quer dizer, então, que se não houvesse a proibição legal, o racismo seria algo natural para eles (?). Na verdade, é o que pensa muita gente no Brasil.

Segundo o IBGE, mais da metade da população nacional se considera não branca. Mas essa enorme parcela do povo não se vê representada nas diversas instâncias do poder. Não fosse o presidente Lula, o egrégio Supremo Tribunal Federal continuaria ariano. Quantos deputados, senadores e governadores negros? Quantos executivos negros? Quantos apresentadores de TV negros? Quantos professores universitários negros?

Ascenção sócio-econômica, geralmente, reclama bons estudos. Mas, quantos negros estudam em escolas particulares? Qual o perfil étnico de quem é aprovado nos melhores concursos públicos, como juízes, auditores, promotores, etc.?

Em grandes eventos artístico-sociais, o negro se faz presente? Fui a uma solenidade aberta na Academia de Letras da Bahia e fiquei tonto; meu Deus! Quantos olhares de desaprovação! Não sei como não chamaram a polícia!

Certa vez, em uma reunião de gerentes da Bahia de um banco federal, realizada em Salvador, da qual participei como convidado, um gerente, no intervalo, observou: “Carvalhal, de negro aqui, só nós dois”.
Quando um negro ascende a um cargo de relevância, só ele percebe os olhares raivosos, a má vontade, o distanciamento, a hipocrisia, os silêncios, os ditos e os não ditos.

Uma professora, certa vez, me disse: “Durval, eu tenho uma colega que está numa situação difícil, porque ela é professora doutora. Os colegas brancos acham que ela está roubando um lugar deles, e os negros não gostam dela, porque acham que ela subiu muito”. O racismo é uma doença tão violenta, que chega a colocar um negro contra o outro, em caso de diferenças socioculturais. Só quem é negro sabe o que é ser negro na sociedade brasileira.

O invejoso, ensina a psicologia, não quer ter o que você tem; ele simplesmente não quer que você tenha o que tem. E quando a inveja se associa ao racismo, a combinação é diabólica, e não há Marketing Pessoal que resolva.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 26/04/2012
Alterado em 06/05/2012


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