Durval Carvalhal

Fazer de cada queda um passo de dança.

Textos



 
AI SE EU TE PEGO, GAROTA DE IPANEMA E FALSA BAIANA.

 
Durval Carvalhal




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            Eu entendo perfeitamente as pessoas que atiram pedras em Michel Teló por causa do seu grande sucesso “Ai se eu te pego”, e respeito profundamente a opinião de todas elas.
            Como eu já fui jovem, farrista, mulherengo, entendo muito bem as circunstâncias em que se situa a música em questão. Afinal, o homem é ele mesmo e suas circunstâncias, como sentenciou Ortega y Gasset.
            Hoje, quarta, depois do Natal, estava passeando em um shopping de Salvador e lembrei-me de Falsa Baiana, composta em 1944 por Geraldo Pereira e gravada por dezenas de artistas grandiosos como Ciro Monteiro, Gal Costa, Gilberto Gil, Roberto Silva e tantos outros cantores, e que é sucesso até hoje.
            Em Falsa Baiana, a letra ressalta a sensualidade, o molejo e os atributos de uma verdadeira baiana:
"Baiana é aquela que entra no samba de qualquer maneira. Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras. Deixando a moçada com água na boca."
            Em Garota de Ipanema, composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, a descrição de uma mulher sensual também se faz presente. A música revela a graça da mulher carioca; uma garota que andava balançando-se e remexendo-se com tamanha sensualidade, a ponto de despertar o eu lírico dos poetas que estavam dentro de um bar:
“Ah, se ela soubesse. Que quando ela passa. O mundo inteirinho se enche de graça. E fica mais lindo. Por causa do amor.”

            Em "Ai Se eu te pego", composta em Porto Seguro em 2008, a letra fotografa a passagem de uma menina sensualíssima, que deslumbra o casal de compositores, em uma balada:
            “Sábado, na balada. A galera começou a dançar. E passou a menina mais linda. Tomei coragem e comecei a falar. Nossa, nossa. Assim você me mata. Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego”.
            O barzinho é uma casa de aconchego, para onde correm todas as pessoas, seja para descansar a cabeça, que durante o dia só pensou o cotidiano duro, cheio de trabalho e muitas questiúnculas; seja para encontrar bons amigos e bater aquele papo reanimador; seja para começar uma possibilidade de amor; seja para curtir simplesmente a gostosa noite; seja, enfim, para uma infinidade de sejas.
            A balada é, talvez, o momento mais inspirador para a instauração do clima de romance, que muda de forma de acordo com a época.
            Em Falsa Baiana e Garota de Ipanema, a sociedade era mais comportada, mais contida, mais formal. Hoje, época de Teló, o comportamento das pessoas é mais solto, mais livre e mais despojado; daí, a letra menos rebuscada e recheada de linguagem informal.
            Mas, arte é algo que é percebido pelas pessoas de formas diversas, pois cada um de nós tem a sua cosmovisão, sua visão de mundo; além do mais, ninguém é obrigado a gostar de nada. Todavia, se se analisar e se procurar, sem má vontade e sem preconceito, poder-se-á encontrar poesia em pedra, como aconteceu com Drummond de Andrade no poema “No meio do caminho”.


 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 27/12/2012
Alterado em 27/12/2016


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