Durval Carvalhal

Fazer de cada queda um passo de dança.

Textos


A TORRE E OS SONHOS
 
Durval Carvalhal




20u79dh.png

 
      É a epopeia de uma menina de Uberlândia, que resolve crescer pessoal e profissionalmente no Canadá, o que culminou com o mestrado em engenharia Industrial e casamento com um canadense.
      A vida é feita de escolhas. Para isso, faz-se mister respirar fundo, subir a Torre do Tempo para inspirar-se e tomar as melhores decisões. E foi assim que Maria Senna, a personagem central e narradora, “alçou voo como as águias selvagens que voam muito alto”.
      A história é ambientada em Toronto para onde a protagonista viajou; uma vez primeira para fazer intercâmbio e, pela segunda vez, concretizar e sacramentar seus sonhos.
       Determinada, não tinha grandes saudades da família, exceto da sua adorável tia-avó Biba, carinhosamente tratada como Guegue, com quem dialogava através de cartas frequentes e, até metafisicamente, depois da morte da vovó querida.
     Sozinha, com parcos recursos, passando necessidades agudas, chegou a pensar em retornar para sua Uberlândia. Mas, os acasos de Milan Kundera tornaram-se constantes, e começou a se aproximar de pessoas que, com amizade, carinho e solidariedade, ajudaram-na a vencer os obstáculos surgentes. A começar pela coreana Ki, sua colega de quarto na UofT-Universidade de Toronto, o seu namorado Ravi, a professora universitária Emma, além de Érica e Jack.
       Seu cotidiano era duro; dividia-se entre universidade e estudos; poucas vezes, tinha tempo para sair com os amigos. Mas o amor sabe vestir-se de fantasma e surgir nas horas inesperadas.
       Nos momentos de incertezas, ia à Torre CN, um local turístico, em busca de inspiração e paz: “Oh! Minha CN, estou aqui para buscar forças para seguir em frente” (Pg. 49).
       De personalidade forte, tinha uma extraordinária capacidade de vencer as vicissitudes da vida. Intitulava-se “fênix, uma ave que voa alto. Aquela que junta as cinzas para ressurgir como uma nova pessoa, revigorada, transformada, fortificada e cheia de esperanças renovadas”, pg. 51.
       Maria conseguiu um trabalho na biblioteca da universidade onde estudava; por isso, abandonou o quarto inicial e foi morar em um apartamento em frente ao de Ki, a amiga coreana. Sob seu teto, tinha mais liberdade e autonomia.
         Por trabalhar em área específica da universidade, conheceu Ethan, um deus grego em pessoa, de “charme estonteante e conquistador [...] Um homem lindo, canadense, em um momento que tenho me sentido tão só”. Mas, sua intuição dizia-lhe que ele não era confiável. A intuição feminina tem ares de infalibilidade, e o estupro foi o resultado final, ferindo-a, indelevelmente.
         Consolava-se com Pacha, seu gato de estimação, pois:
O amor é coisa pura,
Que sai do coração
E transcende a razão.
E é algo que tortura,
Quando alguma paixão
Vira frustração.

       Quando recuperou sua autoestima, deparou-se com o professor Paul, “renomado engenheiro”, educado, culto e de espírito artístico, que lhe despertou “uma atenção desenfreada”. Mas na contabilidade do amor, Paul era uma conta negativada, pois era um “verdadeiro Dom Juan”.
       Maria entendeu que já era “preciso dar cara nova ao que está velho”. Novamente, ressurgia das cinzas. Com experiências acumuladas, ficou mais densa, mais bonita, mais feminina e mais dona de si. Os seres humanos experimentam vários nascimentos. Sentiu que tinha sido “parida de novo”, e os desencontros da vida fizeram-na encontrar-se com Benjamim, “um homem de palavra, honesto, seguro, religioso, carinhoso, atencioso, educado para se doar e casar”, e se casaram efetivamente.
       Lícia Pinto nos presenteia com um belo romance de amor, de leitura despojada, fácil e cativante, no qual demonstra habilidade na escrita, cultura geral e um conhecimento profundo do Canadá, como se fosse uma nativa, uma “habitante de Toronto, torontense ou torontina”, como sentenciou o maridão.
      O prazer de ter lido A Torre e os Sonhos, de Lícia Costa Pinto, foi o mesmo de quando li Diva, de José de Alencar; Helena, de Machado de Assis; Mar Morto, de Jorge Amado; Crónica de Una Muerte Anunciada, de Gabriel Garcia Marques; A Insustentável Leveza de Ser, de Milan Kundera; Primo Basílio, de Eça de Queiroz, ou Clarissa, de Érico Veríssimo.
      No mais, é só adquirir, ler e deleitar-se com o livro:

PINTO, Lícia Costa.
A torre e os sonhos. 1.ed. Salvador. Ed. do Autor, 2015. 213 p.
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 25/07/2015
Alterado em 26/07/2015


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras