CAMPANHA DE PELEGRINO OUTUBRO DE 2012
Durval Carvalhal
A campanha de Pelegrino para prefeito de Salvador em 2012 foi fraca e sem criatividade. Na televisão, parecia um curta metragem sem roteiro. O longo tempo para propaganda no rádio e na tevê, 13m49s, não foi aproveitado com eficiência na apresentação de projetos relevantes para a cidade alavancar e sair da situação caótica em que se encontrava: 1) Logo no início, durante quase duas semanas, mostrou-se a casa em que o candidato nasceu, acompanhada da confissão de que havia 43 anos que não aparecia por lá. Qual a importância, então, da casa? 2) Executou-se muita música e cenas de ruas inexpressivas. 3) Predominância de críticas, ao invés de enfatizar propostas para a cidade. 4) Muitas propagandas do governo estadual em eleição municipal; 5) Insistência na questão das cotas, oportunizando respostas positivas do adversário que tinha uma vice negra e militante, além do argumento de que o ato foi isolado de um senador, que fora “expulso” do DEM, além da propaganda do anuncio da criação do Estatuto da Igualdade Racial na prefeitura de Salvador; 6) Insistência na denúncia da promessa de surra em Lula, provocando explicação contundente, ao alegar que a família do acusado teria sido ameaçada pelo PT, cujo resultado era a condenação em vigência de mensaleiros, aumentando a descrença do povo no partido. 7) Insistência no alinhamento da prefeitura com os governos estadual e federal, quando o próprio Peregrino já houvera dito o contrário, quando candidato prefeitural, e o governo era do PFL, hoje DEM. 8) Propostas milionárias para uma prefeitura pobre de recursos, insinuando a necessidade de apoio do governo federal, quando o metrô já dura anos e anos , além da Passarela de Pituaçu, que já dura também anos. 9) Absoluta falta de animação do próprio candidato, aliada ao desgaste do PT nas greves da Polícia Militar da Bahia e dos professores, mal conduzidas pelo governador. Na greve dos professores, apostou-se irresponsavelmente no desgaste da categoria, enquanto que na greve da polícia, ao invés de negociação, houve ameaça imediata e dura, através do ministro da Justiça, Sr. José Cardoso. Ora! Política é ciência e se alimenta de boas ideias. O discurso contra a volta do carlismo depôs contra o próprio PT, porque grandes figurões do antigo grupo dominante estão aliados ao Partido dos Trabalhadores, a começar pelo vice-governador, Otto Alencar, que foi um dos grandes líderes de ACM, elegendo-se como vice-governador e governador do Estado na era ACMista. Somando-se a tudo isso, há o reconhecimento nacional do mensalão, a condenação da grande maioria dos réus e a especulação publicada na Veja sobre a confissão de Marcos Valério a respeito da participação ativa do ex-presidente Lula no esquema do desvio de dinheiro público. No segundo turno, nada mudou. Ou mudou para pior. Intensificou uma contrapropaganda débil, que só deu mais munição ao adversário, ao invés de focar em projetos para a cidade. O tempo todo, martelou sobre cotas, volta do carlismo, bolsa família, alinhamento radical com os governos estadual e federal, crítica eterna a João Henrique, crítica ao já morto ex-senador ACM e não ao adversário real, invasão da faculdade de Direito no governo do próprio aliado de hoje, mensalão dos outros que ainda não são realidades, descuido na imagem e na postura. Preferiu atacar em demasia e demonstrou menos segurança. Apresentou propostas altamente dependentes dos governos, mormente federal, além de não se mostrar carismático. Também o ambiente era desfavorável ao PT em face, sobretudo, do julgamento do mensalão, dos últimos apagões e dos discursos de Lula e Dilma em comício em Salvador, que tangenciaram o mau gosto e a deselegância, muito distante do que se considera um bom discurso político. O PT se assemelhou aos grandes milionários das loterias brasileiras que, por não saberem administrar suas fortunas, voltaram à antiga vida de dificuldades. Um partido forte, com um candidato de peso, 15 minutos de propaganda, apoiado por 18 partidos, pelos governos estadual e federal, além de grandes lideranças locais e nacionais, e que perde para o candidato de um partido fragilizado, com cinco minutos de propaganda e apoiado por poucos partidos, tem a obrigação de refletir profundamente sobre uma derrota histórica e amarga. Em prol da própria democracia brasileira, é bom que o Partido dos Trabalhadores se recupere e volte a gozar de prestígio junto à sociedade e continuar contribuindo para o desenvolvimento do País. Mas, dificilmente, será como antes, posto que a bandeira da ética, o único e valioso diferencial do partido, fora torpemente rasgado. O partido igualou-se a todos os outros, tanto sim que se alia com qualquer um, inclusive com Maluf. Que pena! Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 01/11/2012
Alterado em 01/10/2024 |