O TORCEDOR E O ELEITOR
Durval Carvalhal O que há de comum entre torcedor de futebol e eleitor, que são elementos distintos na cultura eleitoral? O torcedor é alguém que aprecia, acompanha e torce por um clube ou seleção nacional de futebol. Ele incentiva a equipe, mostra o seu entusiasmo ou insatisfação; para isso, grita, canta, vaia, profere palavrões. É pura paixão, mas não tem poder sobre o resultado final. Por ouro lado, o eleitor vale-se da sua cidadania para eleger quem vai representá-lo nas decisões sobre os destinos da sua cidade, do seu estado, ou do seu país. Ele exibe, também, paixão, sentimentos, ações, manifestações, mas tem o condão de influenciar o resultado do jogo eleitoral. Estes dois protagonistas, torcedor e eleitor, portanto, têm o mesmo comportamento nos seus ambientes. O que um faz, o outro também faz. Usam bandeiras, camisas, palavras de ordem, carreatas, cuja emoção é a estrela. Futebol é desporto, é jogo, é entretenimento que se destaca pelo entusiasmo das torcidas, pela magia das jogadas, pela alta capilaridade do evento, pela capacidade de emocionar plateias e de aproximar e interagir povos. Política é a ciência da administração pública; é a mãe de todas as ciências, porque decide sobre a liberdade, a economia, a saúde, a educação, o direito, o trabalho, o transporte, a segurança pública e que tais, reclamando razão e não emoção na hora de votar; senão, as consequências poderão ser desastrosas. O apoio do torcedor é como o apoio do fã, que vai ao teatro ver um espetáculo. É como a existência da música, que dura enquanto toca; deixou de tocar, deixa de existir. Já o apoio do eleitor tem implicações profundas na sociedade, porque o voto é uma procuração dada a alguém com poderes plenos para decidir sobre a administração de uma cidade, um estado, ou uma nação. Assim como não se contrata uma empregada doméstica pela emoção, e nem se concretiza um processo de contratação de trabalhadores sem que se faça uma análise do perfil de cada candidato, avaliando sua qualificação, seu conhecimento, sua disposição e sua vontade de trabalhar, semelhantemente não se deve votar em candidato só por amizade e simpatia. Trata-se de uma escolha sutil, bem pensada, feita com consciência política, depois de analisar sua competência, seu discernimento, sua cultura, seu espírito público, suas propostas, sua viabilidade prática e seu histórico político-pessoal. Afinal de contas, são anos de poder político com influência profunda no dia a dia da sociedade. Dessa forma, devem se colocar os pontos nos “is”, para que cada macaco fique no seu galho. Futebol e política são como água e óleo, não se misturam. Se futebol é mero esporte e política é poder, é altamente sensato e responsável que se deixe a torcida no ambiente esportivo, deixando-se a razão comandar o mundo político. Engana-se, pois, quem acha que torcedor é eleitor. Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 19/07/2014
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