ADORAÇÃO MÚTUA (Reminiscências da juventude - 1970)
Durval Carvalhal
Bem, minha querida, você não sabe o quanto esse nosso litígio vai devorando o meu pobre coração. Eu gosto de você. Eu a adoro e sei que você, também, gosta de mim. Apenas, somos duas criaturas altivas e orgulhosas, e um teme aproximar-se do outro.
Há muito tempo que eu pensei em procurá-la. Mas, o medo de certos impasses que estão dentro do cálculo lógico das probabilidades freia-me, interrompe-me, impede-me de procurar a parte do meu tudo.
Como diria Vicente Peale, sou um grande desertor da realidade. Eu devaneio deveras. Ando bastante, demais talvez, mas quando acordo, estou sempre no mesmo lugar. E fico muito triste, quando penso em ter um rival. Que seus lábios doces beijam outros lábios. Que suas mãos meigas acariciam outro rosto e apertam outro corpo. E entristeço-me, mais ainda, quando penso na possibilidade de perdê-la para sempre.
Olha, querida, volte! Eu a estou esperando, para apresentarmos, diante de Deus, a nossa peça, onde eu sou o seu Romeu e você, a minha Julieta.