Durval Carvalhal

Fazer de cada queda um passo de dança.

Textos


UM SONHO ACABOU: Eduardo Campos
Durval Carvalhal




images?q=tbn:ANd9GcTT1nprNss4-rXLz1ldLJUxocOAOKyXB86g5nO0XRfLTBIkXr0H-Q&s




             Eram tão íntimos, que pareciam namorados. No trabalho, na faculdade, ou em quaisquer lugares, colegas e amigos até brincavam:
              - Quando vai ser o casório?
Paulo e Luísa já estavam tão acostumados, que respondiam com sorrisos.
            Gostavam de conversar sobre tudo; do futebol à música; do teatro à filosofia; do cinema à dança; do cotidiano sociológico ao marketing. Mas a preferência absoluta era pela política.
         Era agosto. Chovia muito. O frio era tão intenso, que neutralizava qualquer tentativa de passear. Por isso, os dois irmãos não foram à balada como planejado. Ficaram em casa conversando sobre as próximas eleições presidenciais em Betabas, um país jovem, de pouco mais de 500 anos.
              Paulo perguntou:
              -Será que nosso candidato vai vencer?
               Respondeu Luísa:
           - Estou esperançosa. Mais que isso. Tenho certeza da sua vitória. É o melhor dos postulantes. Além de confiável, é ético, competente, lúcido, elegante e eficiente.
       - Eu sei. Confio muito nele, que é um homem bem humorado, habilidoso. Impressiona-me bastante sua leveza d’alma e sua consistência política. Mas ele não está muito bem nas pesquisas, ponderou Paulo.
        Luísa concordou e argumentou que eleições são um processo, que só se acaba, quando a meritíssima urna sentencia e pública seu acórdão.
           Paulo percebeu que sua irmã tinha razão, havia muitos exemplos de candidatos, que começavam a disputa eleitoral como anãos e terminavam-na como gigantes vitoriosos, bem no topo da votação eleitoral. Dessa forma, o político Eduardo tinha vastos Campos para crescer, porque tinha faro político, era proativo, corajoso e ostentava formidável espírito público. Além de agregador, era o homem certo para o lugar certo para tirar seu país do lugar errado em que se encontrava.
          Luísa lembrou-se do nº 13, número de personalidade forte, de aspecto positivo, como no futebol, que simboliza vitória. E como o nome Eduardo Campos tinha 13 letras, ela não tinha dúvidas sobre seu sucesso eleitoral.
        Despediu-se do irmão, beijou-o afetuosamente e foi dormir. Dormiu um sono tranquilo, profundo e acordou alegre, bem disposta. Fez a higiene matinal e tomou café quentinho como antídoto ao frio intenso. Nesse momento, Paulo apareceu para a refeição matinal e aproveitou a presença de Luísa para recordar o diálogo da noite anterior:
        -A conversa de ontem foi bem legal. Gostei. Você me convenceu de que nosso Eduardo é ímpar, arrojado, ótimo chefe de família; é um democrata convicto, carismático, educado, visionário. Ele nos transmite confiança enorme e deseja ardentemente o melhor para o país e para seu povo. Se vencer, a ética e a educação serão seu carro chefe.
         -Se ele vencer? Meu irmão ainda tem dúvida? Só se o inusitado lhe tirar essa vitória popular, vitória de toda a nação, protestou Luísa.
             Levantou-se da mesa, foi escovar os dentes e sentou-se na sala. Ligou a TV para ver as notícias e não viu nada de mais, até que surgiu a informação de um acidente aéreo. Foi com um avião que saíra do Rio de Janeiro com destino à cidade de Santos, SP.
            Quando se falou que era o avião do seu candidato, ela se assustou e ficou trêmula. As primeiras informações davam conta de que sete pessoas haviam sido feridas levemente e encaminhadas ao hospital, com algumas já liberadas; Luísa tranquilizou-se.
      Respirou aliviada. Levantou-se. Foi à janela olhar a paisagem molhada, quando ouviu a confirmação da morte trágica de toda a tripulação do jato, mormente da esperança política do se país.
            Ficou estupefata. Quase desmaiou. Atônita, sentou-se no sofá; olhou candidamente para o irmão incrédulo e desabafou:
           - Paulo, o diabo está solto. O sonho acabou tragicamente. Que azar, meu Deus! O país não merecia isso! Demorará muito para surgir outro político completo como ele. A lacuna é enorme. Só restará seu rico legado. Fica a lição de que o 13 não é número de sorte, nem confiável:

13 é o número de letras do seu nome Eduardo Campos;
13 foi o dia em que seu avô, o ex-governador Arrais, morreu;
13 é o somatório da sua idade, 49 anos = 4+9;
13 é o nº do DDD da cidade santista, local do desastre;
13 é o nº do seu principal partido adversário, o PT;
13 é o trágico dia de hoje, quarta feira; e
13 são as letras do título: “UM SONHO ACABOU”.

 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 15/08/2014
Alterado em 02/01/2020


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras