SOTEROPOLITANOS Durval Carvalhal Salvador acaba de ganhar mais uma bela obra literária, SOTEROPOLITANOS, livro de contos organizado pelo escritor Matheus Peleteiro, revisado por Jorge Antônio Ribeiro e capeado por Suzane Lopes. São 29 vozes que compõem a agradável antologia, a enriquecer a nova prosa de Salvador que, nesses tempos epidêmicos, andava soturna e sorumbática. É gostoso ler contos porque são narrativas curtas, envolventes, tensas, não oportunizando, ao leitor, fechar os olhos antes do final; e uma das vozes que ecoam fortemente no livro é a do já consagrado escritor Achel Tinoco, que assina a dolorosa narrativa “CLÍNICA DO POVO”. O conto de Tinoco lembra uma história real deprimente passada na terra do Aché: um menino fora atropelado e socorrido por um taxista, que se dirigiu a uma clínica no bairro do Rio Vermelho. Em lá chegando, foi aconselhado a levar a vítima ao Pronto Socorro, bairro do Canela, porque a clínica era particular. Desolado, o motorista dirigiu-se ao hospital público; mas a distância e os engarrafamentos não permitiram salvar o garotinho. Depois, soube-se que a criança era filha do dono da clínica, que caiu em desespero. Em “CLÍNICA DO POVO”, o enredo é o mesmo. Um camponês encontra um adolescente baleado na beira de uma estrada e o leva para uma clínica, enfrentando toda torturante saga de quem é pobre e precisa de atendimento médico no Brasil. Por não ter plano de saúde, não pode receber o atendimento. ___ "Olha, moço, aqui não é casa de caridade. Leve ele para o hospital público”, disse-lhe a raivosa atendente. Mesmo com a intervenção do padre, o dono do estabelecimento de saúde, médico e fazendeiro, não teve nenhuma compaixão, e quando foi buscar o filho na fazenda, o doutor Bulhosa soube que seu filho, Waltinho, “estava morto no hospital público da cidade”. Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 21/10/2020
Alterado em 21/10/2020 |